Já passava das duas da tarde.
Era um daqueles dias que na sombra está frio,
e exposto ao sol o dia queima.
Voltava para casa com o ânimo de pós-almoço.
A avenida parecia não ter fim, sem sombra,
sem cor. Deitados ao meio fio, alguns andarilhos,
vendedores ambulantes, machucados expostos.
A sociedade está ferida, mas ninguém vê.
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Imagem da internet – Brinkelândia |
“Olha o Escorregador!”
Vem caminhando um pai, com sua filha sobre os ombros,
um dos maiores símbolos do amor paterno,
um animal carrega sua cria.
Pequena camisa de frio, com mangas longas,
listrado em verde-vermelho.
A menina pulou de euforia
na carcunda do pai.
Fitou o brinquedo,
que estava atrás de uma grade de metal.
Eu o procurei,
encontrei um escorregador velho,
pintado de azul.
Passaria por ali sem percebê-lo
se não fosse a menina, que deve ter por volta de seus dois anos.
O pai disparou na frente,
influenciado pela vontade da menina
de encontrar o brinquedo.
Eles pararam logo a frente
na porta de entrada do parque,
compraram um balão, amarelo.
Tinha o formato de algum personagem
de desenho animado que tem passado na TV.
O balão voava mais alto que a menina sobre os ombros do pai.
O vendedor abriu um sorriso: a venda, o dinheiro, a menina.
O dinheiro colocou no bolso da camisa,
e a menina foi desbravar o parque.
O escorregador encantou a menina,
e ela nos encheu de cores.
Eu segui, com um sorriso bobo.
A menina com sua roupa listrada foi colorir o – até então – velho brinquedo.
Ela também seguiu, mas deixou um rastro iluminando a avenida.
E o dia não era mais cinza.
Autoria de Lucas Emanuel, bolsista Serelepe de 2014.
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