Na semana passada, nós do Serelepe recebemos esse lindo relato da Roberta Veiga, falando um pouco da relação da família dela com o disco Locotoco, que lançamos no finalzinho de 2014. A Roberta foi ao show de lançamento do disco com sua filha mais nova, a Cora, que desde então virou fã do nosso grupo! Muito legal! Obrigada, Roberta, por postar estas palavras em nosso facebook!
Um relato pro Serelepe (em especial pra Cris Lima)
Por Roberta Veiga.
“Viajamos eu e minha família (Marco, Cora e João Luiz) ao todo 24hs de carro pra Bahia, 12 pra ir e mais 12 pra voltar em 4 dias e em Caraíva ficamos 15 dias. No carro o cd que mais ouvimos, solicitado o tempo todo pela minha filhinha Cora, foi o do Serelepe. Claro, já conhecíamos bem, já tínhamos assistido o show (pelo menos eu e Cora), mas na viagem tivemos tempo de saborear várias vezes o disco inteiro. A ordem das músicas, as letras, os arranjos, as vozes, os desenhos e os escritos do encarte do cd tão delicados e deliciosos.
Essa banda é um presente não só pra crianças mas para os adultos. Um imaginário coletivo tão fluente e poderoso está encarnado em cada frase, em cada expressão e nas melodias. Brincadeiras de criança, tradições das velhas cantigas, histórias de bichos, expressões e um humor sutil, quase minimalista, porém doce. Sem falar no balanço gracioso, talvez até garboso e todo comedido (o que me agrada por demais), e uma cadência que vai da calmaria dos rios, passa pela marchinha ritmada, até o fraseado rápido e engraçado sem excesso algum.
Nada mais sedutor para o universo de Caraíva (cidadezinha de praia da Bahia onde não há carros, mas rio, mar, muita areia e muito verde, frutas e bichos). As canções eram como uma preparação para chegada e dps, na volta, uma extensão da ida. Não havia maracujá no caminho da roça, mas havia muito caju e manga, no mesmo caminho, o da roça, que fazíamos todos os dias para ir pro rio Caraíva de manhã. Na rede balançando, em nossa casinha verde, houvíamos os som dos pássaros e lembrávamos do balanço da Ema corredeira, e no caminho pra praia encontramos lá o galo garnizé, quando Cora dizia “cuidado que esse galo te belisca, esse galo pisa o pé”, e vários camaleões que corriam sem que pudéssemos alcançar o rabo do nego. E quando choveu ela pediu o chapéu pois “a chuva cai do céu molhando meu chapéu” e traz o cheirinho de mato, ali encarnado no nosso dia a dia. E como não podia deixar de ser, a balada de Caraíva é forró, e o nosso era o do Serelepe, não só na vozinha doce de Cora, mas de toda família que nessa altura sabe cantar de trás pra frente todas as músicas. É difícil dizer quantas vezes andando por lá, ou na viagem de carro, tivemos que botar uma mão na cabeça, outra na cintura, e mexer as cochitas. E o Emiliano que ninguém achou? Mas o João Luiz tratou de pegar uma ziguizira nas águas de lá pra tener um bambaçu qualquer. Lá todo mundo era vagaroso, então “o que tá fazendo aí” virou qualquer coisa bem vagarosa… que tá fazendo aí… tô cavando um buraco na areia mas ele muito fundo e eu sou vagoroso…
Obrigada Serelepe, vocês tem uma família de fãs que admira esse belo trabalho porque o experimentou no tempo, aquele do sol que entrou, da lua cheia que alumeia, do Rio Caraíva que enche e esvazeia, onde os canoeiros passam com seus remos, remos pelos quais nos apaixonamos e fomos acompanhando.
Beijos de Cora, João Luiz, Roberta e Marco.
PS: Cora manda um beijo e diz que ama vocês.”
Veja só como a Cora sabe toda a letra da canção “O que está fazendo aí?”
Se você tem algum comentário sobre o disco Locotoco, escreva pra gente! serelepe@eba.ufmg.br
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